domingo, 11 de janeiro de 2009

texto stephane malysse

Múltiplas Máscaras da Mônica:
do catch audiovisual à imagem-afeição.

por Stéphane MALYSSE

“As máscaras são expressões controladas e ecos admiráveis do sentimento, ao mesmo tempo fiéis, discretas e supremas. Contudo, alguns filósofos parecem aborrecidos com as imagens por não serem objetos e com as palavras por não serem sentimentos. Palavras e imagens são como as conchas, não menos partes integrantes da natureza do que as substâncias que cobrem, porém melhor dirigidas ao olhar e mais abertas à observação.” George Santayana.


Na sua grande retrospectiva, Mônica Simões navega na sua cidade do Salvador como se ela estivesse no ringue da realidade: “Isso é a Bahia, meu irmão!” – exclama um dos personagens do) filme “Quilombos Urbanos” –, a qual nossa artista respondeu: “Eu sou neguinha?” Para abordar a obra) da Mônica gostaria de usar duas metáforas: o catch e a concha. Espero apresentar desta forma, “Uma Grande Mentira e Uma grande Verdade” sobre a prática poética de Mônica Simões.

Nas suas relações com a vida e com a arte, Mônica se apresenta como uma lutadora de catch no ringue da realidade brasileira. Através dos inúmeros encontros que ela faz e estimula nos campos das suas pesquisas e, depois, no campo da suas imagens, essa batalhadora documentarista é capaz de (re) “Inventar o Cotidiano” e mostrar “Uma cidade” com ecos dos sentimentos. Se a artista usa diversas máscaras, a obra é uma concha: apesar de ser íntima e feita sob medida, verdadeira casa da artista, ela é sempre dirigida ao olhar e aberta à observação do outro. Entre Memória e História, Mônica Simões estiliza seus encontros com os afetos alheios e cria muitas imagens-afeição. Deleuze explica que a imagem-afeição é incontrolável pela consciência: “A imagem-afeição surge no centro de indeterminação, quer dizer, dentro do sujeito, entre uma percepção perturbadora e uma ação hesitante. Ela é a coincidência do sujeito e do objeto ou a maneira pela qual o sujeito se percebe ele mesmo ou se ressente por dentro”. A natureza reflexiva das imagens e a interiorização do vivido parecem animar profundamente o universo poético de Mônica Simões. Neste sentido, as imagens criadas por ela são verdadeiras conchas audiovisuais que têm como “substância o afeto composto do desejo e do espanto e o desvio dos rostos no aberto, no vivo”. Este rosto feliz de uma babá, este olhar vivo da sua empregada, a voz da sua mãe ou a beleza das suas filhas, tudo está comunicando diretamente com a artista, sem filtro, sem fraqueza, sem indiretas. Isso é, também, característico de um jeitinho de olhar que mistura sedução e desprendimento, malícia e provocação; uma máscara social baiana que se espalha no encontro com o público... Um convite aos outros olhares curiosos... Um abraço audiovisual no final de uma luta.

Stéphane Malysse é antropólogo visual, artista multimeios e professor de Artes e Antropologia na E.A.C.H / USP Leste

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Quem sou eu

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Transito há 20 anos no universo das artes visuais. Em 2008 introduzi um novo suporte que é o pano, reafirmando o meu viés multimídia da artista que migra da fotografia para a arte eletrônica e digital e agora para a arte têxtil. Migrando mas sempre incorporando às novas descobertas os antigos suportes.